Descrição
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“Estava coberta de neve uma linda cestinha de natal, como se houvesse cruzado os trópicos e parado na porta do pobre casal de catadores de lixo. A pobre velhinha que andava curvada não percebeu que suas costas andavam retas como há 30 anos. E por onde passava ia repondo feiura em beleza, mau cheiro em perfume e morte em vida. Nasceu Bela Nina em 29 de fevereiro.
Desde aquele dia tudo na vida do casal passou a dar certo, como num passe de mágica. A menina lhes dava sorte. A cada 29 de fevereiro Nina fazia mais um ano de idade e seu crescimento era lento como se a eternidade fosse o seu próprio tempo. E eles continuavam cada vez mais conhecidos no mundo.”
“ — Nina, notou como mudei? Tarcísio mostrava-lhe seu queixo, olhando para o teto.
— Sim, vejo que se alimenta bem. Fico feliz. Nina o via saudável, mas já estava da última vez que o viu. Talvez, fosse algo que ainda não havia notado.
— Não, estou bem melhor. Mal sabia falar, era um tonto. Agora vivo neste lindo castelo. Sou um homem digno de você- Ele arfou o peito e admirou-se de si mesmo.
— Não se sentia digno antes? Nina tentava entender.
— Não. Como alguém que não consegue nem mesmo alimentar a avó pode ser digno? Tarcísio duvidava que ela houvesse gostado deles de verdade, antes. Tivera apenas pena.
— Ah, Tarcísio. Não sabe o que fala. Nada há de indigno em ter fome, ou em ter sede ou frio. Quando se vê uma maçã no pé a agarra e sacia a fome, quando passa pelo rio bebe da água e ao ver alguém passando frio a cobre com a manta. Mas, se não há comida, nem água e nem mantas, não é culpa sua. Culpa é tê-los e não usá-los.”
